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Aurora, Ceará, Brazil
Músico licenciado do curso de Música da Universidade Federal do Ceará - Campus Cariri.
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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Mestre da Madeira: Gil Chagas

Marceneiro, Entalhador, Escultor, Carranqueiro, Artesão, Luthier e Músico.

BIOGRAFIA ARTÍSTICA
Gil Chagas é um mestre de madeira com uma capacidade de criação e um nível de qualidade invejável, misturando-as assim com a ousadia, que são elementos pertencentes aos grandes artistas. Nasceu em 18 de março de 1958, em Aurora-CE. Filho de José de Sousa Chagas e Tereza Maria de Sousa Chagas. Iniciou seus trabalhos artísticos em 1970, aos 12 anos de idade. Influenciado pelo pai Zé Chagas e principalmente pelo seu Avô Pedro de Sousa Chagas, mais conhecido como Mestre Pedro. Gil Chagas foi antes de tudo um admirador do trabalho do seu Avô, tanto que passava um dia inteiro só a observá-lo trabalhando em sua carpintaria. Isso tudo levou o mesmo a sofrer uma forte influência pela arte e pelos trabalhos caprichosos do seu avô.
Além da admiração pelo seu Pai e pelo seu Avô, Gil Chagas também admirava os trabalhos de Nêgo Simplício, que na época trabalhava em um quartinho que ficava por trás da Igreja Matriz Senhor Menino Deus de Aurora-CE. Dizia ele que ficava a observá-lo há horas, sem o perguntar nada, só observando-o, pois mesmo tendo apenas 12 anos de idade já trazia consigo que todo artista nunca deve ser interrompido enquanto cria sua arte.
As primeiras peças feitas por Gil (Chagas) foram imagens de santo, que curiosamente foram feitas escondidas de sua mãe, por conta da desaprovação da mesma em temer ver o filho se afastando dos estudos por causa do interesse pela profissão de carpinteiro. A preocupação da mãe não era em vão, uma vez que Gil chegou a matar aulas para fazer suas peças. Gostava de produzi-las na beirada de um açude que ficava perto de sua casa. Costumava deixar por lá mesmo as peças produzidas, escondidas no pé de uma árvore, para a mãe não desconfiar, mas acabava perdendo-as sempre que o açude ficava cheio.
A desaprovação e insistência da mãe em querer ver seu filho focado apenas nos estudos não adiantou, uma vez que a vontade de produzir mais e mais peças e o amor pela arte falou mais alto, tanto que a mãe aceitou o seu destino e decidiu não mais se intrometer nas suas decisões.
            Gil Chagas veio a se profissionalizar como carpinteiro aos 15 anos de idade, tendo como sua primeira “casa de trabalho” a carpintaria do seu pai.
            Em 1975, com 17 anos de idade, Gil Chagas recebeu uma sondagem para trabalhar na cidade de Crato, na Movelaria Irmãos Rola, pertencente a Vlanderico Teixeira da Silva, sondagem essa feita por José Vieira de Castro, mais conhecido por Zé Velame, que era um conhecido puxador de quadrilhas[1] muito amigo do pai de Gil, que se encontrara em Aurora e viera a conhecer Gil Chagas por conta da amizade que tinha com Zé Chagas. Ao saber de tal sondagem o pai de Gil não aprovou sua ida, de modo que seu filho era menor de idade, mas com muita insistência e promessa de que cuidaria bem de seu filho Zé Velame veio a convencer seu Zé Chagas a deixar Gil rumar para um desafio e uma experiência totalmente nova para o garoto.
Chegando ao Crato foi apresentado ao seu Vlanderico, dono da movelaria. O mesmo, ao ver o garoto esboçou um olhar de desacreditado, por conta da idade de Gil Chagas e também por conta do desafio que teria de enfrentar. A desaprovação não partiu só do dono da movelaria, mas de todos os funcionários, que de certa forma excluíram o garoto.
O grande desafio era fazer o trono do Bispo do Crato, Dom Vicente, tido como um dos maiores benfeitores de Crato. Muita responsabilidade e um desafio tremendo para um garoto de apenas 17 anos desacreditado por todos. Mas foi justamente a descrença que fez Gil ganhar coragem e forças para provar seu talento e sua capacidade a todos.
A “prova de fogo” durou dois meses, sendo que o resultado final foi um sucesso. Sucesso que levou Gil Chagas a ter o respeito de todos após ter terminado sua obra. Gil ainda ficou por um ano e seis meses da movelaria, sendo que após sua saída retornou a Aurora.
            Chegando a Aurora, Gil Chagas retoma seus trabalhos por aqui junto com Franzé, união que começou em 1979 e que durou um ano. Logo após essa união Gil partiu pra mais uma aventura, viajou para Bahia, passando por várias cidades, entre elas: Juazeiro da Bahia, Ilhéus e Senhor do Bonfim. A viagem se deu com a intenção de ganhar mais experiência e enriquecer sua arte observando novos elementos. Por lá Gil passou três anos e aprendeu entre outras coisas a fazer Carranca[2]. A voltar para Aurora, mais experiente e com uma visão mais ampla, não tornou sua arte específica, sempre estando aberto aos diversos tipos de arte e manifestação tem como principais obras: Maria Fumaça; Os Elos (correntes de madeira); Peças Sacras (Oratórios e imagens de santo) e sua investida mais recente, a construção de Rabeca.
O LADO MUSICAL
            Gil Chagas tem a arte entrelaçada ao seu ser, além de mestre de madeira sempre foi simpatizante da música, tanto que aprendeu a tocar violão aos 16 anos de idade com um amigo de infância, o Zé Simplício. Gil é um admirador do que é belo e define a música assim, como uma arte bela, que consegue ser popular e ao mesmo tempo mística.
            Esse lado musical maduro fez nascer em Gil Chagas uma vontade de construir um instrumento que era dono de sua admiração: a rabeca.

O LADO LUTHIER
O interesse de construir uma rabeca era um sonho antigo que vinha desde sua infância. Influenciado pelo visual e pelo som da rabeca, viu ainda menino mestres tocando e encantando em suas rabecas pelas ruas de Aurora, isso tudo levou Gil a ter uma verdadeira obsessão em construir rabecas, mas o medo por achar que não estava preparado sempre lhe impediu de tentar.
Foi com a visita de Gilmar de Carvalho, grande incentivador cultural do Ceará, que Gil Chagas teve a chama de construir rabeca acesa novamente. Após ouvir de Gilmar de Carvalho que deveria tentar construir uma rabeca Gil se viu tentado pelo destino a finalmente enfrentar mais esse desafio. Mas anos se passaram, até que em um dia normal, Gil a descansar receptou do nada a forma de uma rabeca em seus pensamentos, logo se levantou e decidiu por definitivo que iria construir a rabeca de acordo como imaginara.
Apesar de ter na mente o formato da rabeca, Gil não hesitou em pesquisar em diferentes fontes. Com o intuito de consolidar seu sonho foi atrás de informações técnicas na internet. Por lá não conseguiu se satisfazer, foi então que  foi pedir auxílio ao mestre Antônio Pinto, mestre de cultura do estado do Ceará. O mestre se mostrou muito feliz em saber do interesse de Gil em construir rabecas, e lhe deu informações importantes para a realização do sonho de menino. Gil saiu da casa do mestre Antônio Pinto com a certeza de que iria consolidar o seu desejo.
Foi em janeiro de 2011 que Gil fez sua primeira rabeca, feito que o deixa realizado como profissional. As rabecas de Gil Chagas sofreram uma forte influência do mestre Antônio Pinto, que trás características das rabecas construídas em Minas Gerais, porém com algumas mudanças no tamanho e em alguns acessórios.
Gil Chagas além da rabeca pretende construir futuramente um Banjo e um Bandolim, e assim se dedicar ao ofício de Luthier, mas não deixando de lado o seu talento para outras áreas da arte em madeira.



A ESTRUTURAÇÃO DA RABECA

 
A rabeca feita por Gil Chagas tem as seguintes características:
·         Madeiras utilizadas: Cedro e Pau-d’arco (Ypê).
·         Bojo (Corpo): 36 cm; Madeira: Cedro.
·         Braço: 12 cm (Seguindo a regra de que tem que medir 1/3 do corpo).
·         Tarraxas: De madeira Pau-d’arco (Ypê).
·         Arco: 70 cm; Madeira: Pau-d’arco (Ypê); Cordas de nilon 0,30.
·         Cavalete: 12 cm; Madeira: Pau-d’arco (Ypê).
·         Alma: 5 cm por 4,5 cm; Madeira: Pau-d’arco (Ypê).
Outras características:
·         Usa um pequeno alumínio no arco com a intenção de pressionar ou afrouxar as cordas de nilon.
·         Passa o breu por cima das cordas de nilon para limpar e para proporcionar uma maior vibração nas cordas.
·         As cordas utilizadas são as 1(E), 2(B), 3(G) e 4(D) do violão, com afinação correspondente.
·          O verniz aplicado é o Gomalac ou Branilac.
·         A cola usada é Cascorés.


[1] Dança típica nordestina trazida junto com a vinda da Corte Real Portuguesa e pelas missões culturais francesas que estiveram no país na mesma época.
[2] Escultura em forma humana ou animal, produzida e utilizada a princípio na proa das embarcações que navegam pelo rio São Francisco.

Fontes:
http://www.crato.org/chapadadoararipe/?p=47050
http://www.quadrilhaciganinha.com.br/historia_das_quadrilhas.php
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carranca